“Desperta meu menino, desperta solzinho, pedacinho
de Barro e esperança, desperta e vem à batalha da atenção acordada e do coração
brando. Entre tu e nós e alguns outros mais, poderemos por fim ajudar Pachamama
respirar.”
Lucidor
Flores
A Dança dos Albatrozes
Em meio aos céus mais distantes, em meio a
tempestades invernais, nas quais poucos seres vivos teriam a audácia e a
coragem para sonhar em ir tão distante. Aqui, nestas condições de repleta
rebeldia visionária e de sublime constância de voo, podemos encontrar os
sensacionais Albatrozes, que para meu coração são chamados de “Maestros dos
Ventos”.
Suas asas tem em si a força de voar até 6 milhões
de quilômetros em busca de alimentos para seus amados filhotes, e em
busca de sua própria liberdade naturalmente veloz, voam em alturas celestiais,
este é seu dom, e lá de cima, estes pássaros de essência livre, caminham entre
nuvens e nos inspiram a senti-los em pleno voo.
Ahh como temos a aprender com a sábia Mãe, em saber
contemplar o divino Dom de cada ser vivo, e assim poder senti-los mais de
perto, abrindo nossa percepção para uma ecologia interna que é a nativa
linguagem de Pachamama. Trago a esperança vitoriosa de sermos como estes
Mestres dos ventos, que dançam entre tempestades atlânticas, sabendo que a luz
do sol é o espelho dos seus olhos, pois o medo escuro nunca é maior que sua
coragem e que sua liberdade.
“Desperta solzinho, pedacinho de Barro” e vamos
voar longe e alto com a integridade dos Albatrozes, estes incríveis seres que
possuem o dom da lealdade amorosa, estes hermanitos consagrados que
sabem um grande segredo da vida, que o amor é uma “Grande Dança”. E
é assim que estes maestros magníficos encontram suas parceiras, eternas shaktis aladas,
na Dança do Acasalamento, momento em que os corpos vibram em uma respiração de
encher o peito e de erguer as asas magníficas para encontrarem seu amor de
ninho quente, seu amor de contemplação.
Assim, quando os corpos já se
escolheram em uma sintonia natural de Pachamama, o casal se despede, sem apego
e com pura devoção, coragem e confiança, e o Albatroz segue seu voo por meses,
ou até anos, passando por tempestades oceânicas. Mas também suas asas tem o poder
de leva-los a contemplar maravilhosos amanheceres e entardeceres, lá de cima o
Céu é a Terra, pois sua visão é horizontal em beleza viva.
E quando chega a hora, o momento exato
do “reencontro de amor de asas”, que esperou a gentileza do tempo na intrínseca
força da Vida, o Maestro Planador ,que voou por correntes aéres enlouquecedoras
de ar Planetário, volta ao local onde a dança se fez.
Posso imaginar que seus bicos fortes e
ligeiros são conectados para farejar aquelas asas que foram escolhidas para
serem suas “parejas”, aqui todos os sentidos estão plenos e vibrantes, que momento!
O lugar escolhido para este amor
selvagem, o “paraíso”, pois estes seres celestiais não se contentam em viver em
lugares comuns e barulhentos. O barulho escolhido é o das águas em forma de
ondas, ou da chuva em forma branda, o som aqui é a pura dinâmica da natureza
uivando em uma dança de formas vivas.
Estes seres, consagrados de atenção
plena, escolhem as Ilhas selvagens para desde ali ficarem quando o desejo é
estar com as suas patinhas no chão da Terra, e aqui os “Maestros del viento” se
encontram para estar perto dos seus ninhos e celebrar, afinal estão em amor na
Terra.Neste solo fértil, seu instinto de lealdade e intuição, que nos lembram,
quiçá, uma sensualidade nativa, faz com que as asas, os bicos e os corpos
alados se encontrem em um momento de reconhecimento desperto, vivido naquela
noite da Dança do acasalamento.
Imaginemos desde aqui o cenário deste
romance dos grandes planadores, e a oportunidade de saber olhar a Natureza em
poesia sutil e terna, nos dando um brinde de vinho vivo ao nos convidar a
sentir a criativa relação amorosa que cada ser vivo manifesta em plena dança de
Pachamama.
O jogo nesta dança de natureza selvagem
é um convite de rebeldia visionária para abrir-nos ao fluxo vivo do amor em
inocência madura, e podermos sonhar em quiçá sermos convidados a conhecer por
dentro a casa de um João de Barro, ou então de um dia vivermos em uma sociedade
onde cada cidadão, hermanito, sinta uma atração irresistível pela ternura
das sementes vivas da compaixão, e intente alçar voo de liberdade, todas as
manhãs ao acordar, com a sedução da luz do sol e disposto a reconhecer o caminito sagrado
que nos leva de volta ao nosso jardim de pedacinho de Barro, e feito por todas
las manos.
Urpichay Pachamama
Urpichay “Maestro
de los Vientos” por soprar nossas inspirações mais profundas e nos recordar que
nossos olhos são espelhos do Sol...